Arminianismo Não é SemiPelagianismo
“Arminianismo e Semipelagianismo são a mesma coisa!”; Esta
uma declaração errônea que os adeptos do Calvinismo usam para caluniar os
Arminianos, mas isto é um “espantalho”! Pr.Silas Daniel foi feliz em seu livro
quando fez cirurgicamente a distinção entre eles, para isto, primeiramente
explica acerca dos termos “Sinergia/Sinergismo”
Texto Extraído do Livro:
Silas Daniel - Arminianismo: A Mecânica da Salvação; Uma
Exposição Histórica, Doutrinária e Exegética sobre a Graça de Deus e a
Responsabilidade Humana – CPAD; 2017
Durante os primeiros 400 anos da história do cristianismo,
podemos depreender com segurança, pelos escritos dos Pais da Igreja, que a
posição adotada pelos cristãos acerca da mecânica da Salvação foi, na maioria
dos casos, o que posteriormente seria classificado, no final do século 16, como
“semipelagianismo”; e nos demais casos, o que seria chamado posteriormente de
“arminianismo”, termo que só seria cunhado no século 17. Em outras palavras, o
entendimento de todos os Pais da Igreja pré-Agostinho em relação à mecânica da
Salvação era o que posteriormente seria designado, exageradamente, no final do
século 16, como “sinergismo”.
Digo “exageradamente” porque o termo “sinergia”, que
significa um conjunto de ações ou esforços simultâneos associados em prol de um
mesmo fim, sugere implicitamente uma cooperação de forças mais ou menos
equivalentes ou complementares para atingir um objetivo comum. Ora, se há uma
coisa que nenhum Pai da Igreja defenderia e nenhum teólogo arminiano ou
semipelagiano de ontem ou de hoje defenderá é que a resposta cooperativa do
homem ao chamado divino para Salvação implica que a responsabilidade do homem
no processo de Salvação é mais ou menos equivalente a de Deus nesse processo.
O que tanto semipelagianos como arminianos afirmam com todas
as letras – só que os arminianos o fazem ainda mais clara e contundentemente –
é que a Salvação é uma obra totalmente divina. À luz da Bíblia, assevera o
arminianismo que Deus não apenas propiciou a Salvação como também capacitou o
livre-arbítrio do homem para as coisas espirituais, o que possibilita que este
possa responder ao chamado divino. Ou seja, sem a ação divina, o homem não
poderia ser salvo de forma alguma, pois ele, além de não poder prover salvação
para si mesmo, não poderia responder de forma alguma ao chamado divino para
ela. Logo, uma vez que a Salvação foi propiciada totalmente por Deus e o
livre-arbítrio do ser humano foi concedido também pelo próprio Deus, homem
nenhum pode vangloriar-se por ter assentido ao chamado divino, porque até a sua
capacidade de responder foi dada por Deus. Portanto, o ser humano tem apenas
uma pequena participação possibilitada por Deus e de caráter mais passivo do
que ativo no processo inicial de sua Salvação – mais passivo do que ativo
porque o homem, nessa fase inicial, só confia, aceita e se submete. E mesmo
depois de salvo, quando precisará ser também ativo, “operando” a sua salvação
com “temor e tremor” (Fp 2.12), isso só lhe será possível por causa da nova
natureza em Cristo gerada em seu ser pelo Espírito Santo. Sem olvidar o fato de
que, mesmo com uma nova natureza, ele precisará também diariamente do auxílio
da graça divina, sem a qual sua santificação e perseverança seriam simplesmente
impossíveis (Fp 2.13). A nova natureza em Cristo precisa ser alimentada e
fortalecida diariamente
Dirá o semipelagiano: “A salvação foi totalmente propiciada
por Deus. O ser humano que é salvo apenas recebeu aquilo que de graça foi feito
por Deus em seu favor, algo que ele não podia fazer por si mesmo. E ele só pôde
receber a salvação porque Deus, pela sua graça, preservou seu livre arbítrio,
sua capacidade de responder positivamente ao chamado divino para ser salvo.
Tudo vem de Deus”.
Por sua vez, dirá o arminiano, mais acertada e
coerentemente: “Aquele que é salvo em Cristo não fez nada para ser salvo, pois
sua salvação foi totalmente propiciada por Deus; ele apenas recebeu,
passivamente, confiantemente e de mãos vazias, aquilo que de graça foi feito
por Deus em seu favor, algo que ele não podia fazer por si mesmo. E ele só pôde
receber a salvação porque Deus, pela sua graça, ativou seu livre-arbítrio
para as coisas espirituais, sua capacidade de responder positivamente ao
chamado divino para ser salvo, a qual havia sido comprometida após a Queda.
Tudo vem de Deus”.
Ou seja, a diferença entre semipelagianos e arminianos
consiste apenas no que diz respeito ao entendimento sobre o nível de corrupção
herdada pelo homem após a Queda e, consequentemente, sobre a indispensabilidade
ou não de uma ação preveniente da graça para a cooperação do ser humano com a
graça. Para os semipelagianos, essa corrupção é parcial: o livre-arbítrio para
as coisas de Deus foi minimamente preservado por Ele, de maneira que o homem
pode responder ao chamado divino, cooperando com a graça. Já para os
arminianos, essa corrupção é total: o livre-arbítrio para as coisas de Deus foi
totalmente comprometido após a Queda do homem, de maneira que o homem só pode
responder ao chamado divino porque Deus, em um ato precedente de sua graça,
restaura o seu livre-arbítrio para as coisas espirituais. Só assim é que o ser
humano pode cooperar com a graça – e, mesmo assim, no momento da conversão,
essa cooperação se dá mais passivamente do que ativamente.
Não por acaso, o termo “sinergismo” foi aplicado pela
primeira vez para designar tanto a posição semipelagiana como a arminiana
exatamente pelos opositores dessas duas posições. Ele foi cunhado por luteranos
monergistas radicais do final do século 16 para designar pejorativamente os
luteranos filipistas, fiéis seguidores do luterano de linha arminiana Felipe
Melanchthon, 1 contra os quais os luteranos monergistas radicais se opunham
veementemente. Foi um termo cunhado por opositores, em meio ao calor de um
debate e com o propósito claro de exagerar a posição adversária para
desacreditá-la. Para piorar, o termo “semipelagianismo” – igualmente impróprio,
além de fortemente pejorativo – foi utilizado nesse mesmo período pelos mesmos
indivíduos para designar, juntamente com o termo “sinergismo”, tanto a posição
dos monges cassianistas opositores de Agostinho (sobre os quais falaremos no
próximo capítulo e que não poderiam ser classificados de semipelagianos de
forma alguma – aliás, nem mesmo o bispo de Hipona os via dessa forma) 2 como a
posição não-cassianista dos luteranos arminianos, seguidores de Melanchton.
Lembrando que o termo “semipelagianismo” fora cunhado pelo calvinista rígido
Teodoro Beza em 1556 para se referir à doutrina católica romana esposada em
seus dias. Inicialmente, Beza nem pensou em aplicá-lo aos seguidores da posição
de Melanchthon. Foi com os luteranos monergistas radicais que começou essa
aplicação. Eles começaram a usar injustamente esse termo para se referir à mecânica
da Salvação melanchthoniana, o que depois cairia no gosto calvinista.
Os teólogos arminianos como J. Matthew Pinson, presidente do
Welch College em Nashville, Tennessee (EUA); Robert E. Picirilli, professor de
Grego e Novo Testamento no Welch College e no Free Will Baptist Bible College;
F. Leroy Forlines, professor emérito do Welch College; Kenneth Donald Keathly,
professor senior de Teologia do Southeastern Baptist Theological Seminary;
Jeremy A. Evans, professor de Filosofia no mesmo seminário; o teólogo batista
Mark Ellis; o teólogo e historiador holandês William den Boer; o teólogo,
professor de Filosofia, Religião e Teologia Histórica, e historiador nazareno
Carl Bangs (1922- 2002), autor da melhor biografia de Armínio já escrita;
Richard Cross, professor de Filosofia da Universidade de Notre Dame; o pastor e
teólogo metodista Arthur Skevington Wood (1917-1993); e até o pastor
presbiteriano norte-americano Gregory Graybill, em sua obra Evangelical Free
Will (originalmente uma monografia para conclusão de seu curso de Filosofia na
Universidade de Oxford), preferem chamar o sinergismo arminiano de “monergismo
condicional” ou “monergismo com resistibilidade da graça”, o qual definem como
uma “recepção passiva do mérito ao invés de uma ativa obra cooperativa que
ganharia o mérito”, posto tratar-se de uma “relação na qual a vontade e a obra
de Deus dentro do homem são bem-vindas numa atitude de confiança e submissão”.
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