quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

LIÇÃO 1 – A CARTA AOS HEBREUS E A EXCELÊNCIA DE CRISTO


INTRODUÇÃO: Nesta lição introdutória do nosso estudo da Carta aos Hebreus, queremos iniciar dizendo que assim como todos os escritos da Bíblia, esta carta é um documento especial. Em nenhum outro documento do Novo Testamento encontramos um apelo exortativo tão forte. Isso possuía uma razão de ser — os crentes hebreus davam sinais de enfraquecimento espiritual e até mesmo o risco de abandonarem a fé! Era, portanto, urgente admoestá-los a perseverarem. Jesus, a quem o autor mostra ser maior do que os profetas, maior do que todas as hostes angélicas, maior do que Arão, Moisés, Josué e até mesmo os céus, é nosso grande ajudador nessa jornada.


Comentarista: José Gonçalves, pastor em Água Branca, Piauí, graduado em Teologia pelo Seminário Batista de Teresina e em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí. Ensinou grego, hebraico e teologia sistemática na Faculdade Evangélica do Piauí. É comentarista de Lições Bíblicas da Escola Dominical da CPAD e autor de vários livros publicados pela CPAD, é presidente do Conselho de Doutrina da Convenção Estadual das Assembleias de Deus no Piauí e membro da Comissão de Apologética da CGADB.  http://pastorjosegoncalves.blogspot.com.br/ 


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Comentário

#1.AUTORIA, DESTINATÁRIO E PROPÓSITO

1. Autoria: A Carta aos Hebreus não revela o nome do seu autor. Esse fato fez com que surgissem inúmeras controvérsias em torno de sua autoria. É certo que os cristãos primitivos sabiam quem realmente a escreveu; todavia, já por volta do segundo século da nossa era não havia mais consenso quanto a isso. Clemente de Alexandria, no final do segundo século, atribuiu ao apóstolo Paulo a sua autoria, contudo, ao afirmar que Paulo a escreveu em hebraico e que Lucas a teria traduzido para o grego, passou a ser duramente questionado. As razões são basicamente duas: O texto de Hebreus, um dos mais rebuscados do Novo Testamento grego, não parece ser uma tradução. Por outro lado, o estilo usado na carta não parece ser de forma alguma de Paulo. Outros nomes surgiram como possíveis autores de Hebreus: Barnabé, Apoio, Lucas, Clemente Romano, etc. O certo é que somente Deus sabe quem é o seu autor. Por outro lado, o fato de ter sua autoria desconhecida em nada diminui a sua autoridade.

*Muitos afirmam a autoria de Paulo pelo fato de Hb.13.22 cita o nome de Timóteo, sobre isso escreveu CHAMPLIN – HEBREUS – Pg.468.

Uma das respostas possíveis para aparente confirmação de autoria paulina, consiste em salientar-se que havia muitíssimos prisioneiros, que muitos companheiros e conhecidos de Paulo foram encarcerados, e que muitos deles conheciam a Timóteo. Nada há nisso que não possa aplicar-se igualmente a muitas outras personagens conhecidas ou desconhecidas daquela época. O livro de Atos é dominado pela figura de Paulo, e vários de seus aprisionamentos são mencionados ou deixados subentendidos, pelo que também qualquer menção de «encarceramento» naturalmente leva nossas mentes a pensar em Paulo. Mas isso se deve somente à nossa «associação» com outras passagens familiares do N.T., não representando, necessariamente, algum fato.

*E é bem provável que o autor da Carta aos Hebreus estava bem familiarizado com as cartas paulinas, daí algumas expressões serem parecidas com as do apóstolo Paulo.

2. Destinatários: Não há dúvida de que a Carta aos Hebreus foi escrita para cristãos judeus. Deve ser observado que essa carta foi endereçada a uma comunidade específica de cristãos e não a um grupo indeterminado. O autor conhece o público a quem endereça o seu texto e espera até mesmo encontrar-se com eles (Hb 13.19,23). Onde viviam esses crentes é um ponto debatido pelos teólogos. Baseados na expressão “os da Itália vos saúdam” (Hb 13.24), muitos eruditos argumentam que esses crentes se encontravam fora de Roma, capital do Império Romano. A data da carta é motivo de disputa, mas as evidências internas permitem-nos situá-la antes da destruição do Templo de Jerusalém no ano 70 d.C.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO
Seu conteúdo revela que foi escrito para cristãos judeus, o emprego que o autor fez da Septuaginta (versão grega do AT), nas citações do Antigo Testamento, indica que os primeiros leitores foram provavelmente judeus de idioma grega que viviam fora da Palestina. A expressão “Os da Itália vos saúdam” (13.24) significa provavelmente que o autor escrevia para Roma, e que na ocasião incluiu saudações de crentes italianos que viviam longe da pátria. (Bíblia de Estudo pentecostal – Hebreus – Págs. 1896-1897)

3. Propósito: De fato, essa carta possui uma grande carga exortativa. Ela exorta os crentes a terem ânimo, confiança e fé em um tempo marcado pela apostasia. Muitos pareciam estar desanimados com a oposição que a nova fé vinha sofrendo e em razão disso estavam voltando às antigas práticas judaicas. A carta, portanto, exorta esses crentes a suportarem as pressões e perseguições, lembrando-os que não haviam ainda derramado sangue pela sua fé (Hb 12.4). Essas palavras continuam ecoando nesses dias quando muitos crentes demonstram apatia e falta de fervor espiritual diante de um mundo hostil.

*Os anos se passaram, mas o cenário em que os hebreus viveram continua o mesmo, em que muitos crentes estão enfraquecidos na fé, uns se apostataram, outros se desviaram, e muitos estão espiritualmente frios, indo pouco a igreja, trocando a comunhão com Deus e com os irmãos, para se envolverem egoisticamente com seus próprios negócios, se embaraçando com as coisas dessa vida; A decepção e a mágoa com irmãos, o materialismo, o entretenimento, os falsos ensinos e a multiplicação da iniquidade estão apagando o fervor espiritual de muitos irmãos (Mt.24.10-12), ao contrário disso, outros irmãos são provados até a morte e mesmo assim continuam fiéis ao Senhor, morrem mas não negam o Cristo que os amou até o fim se entregando numa cruz.

Devemos(Hb.10.36 Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa. 37 Porque ainda um pouquinho de tempo, E o que há de vir virá, e não tardará. 38 Mas o justo viverá da fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele. 39 Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que creem para a conservação da alma).

Como Podemos?: (Hb.12.1 PORTANTO nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta, 2 Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus. 3 Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos.

#2.CRISTO - A PALAVRA SUPERIOR A DOS PROFETAS

1. A revelação profética e a Antiga Aliança: Ao falar da supremacia de Jesus, o autor de Hebreus primeiramente o faz em relação aos profetas. Deus falou no passado pelos profetas e no presente pelo Filho (Hb 1.1). A revelação profética no antigo Israel fez com que esse povo se distinguisse dos demais. O autor mostra um Deus que se revela, que se comunica com os seus. Ele fala de uma forma direta a seu povo, não é um Deus mudo! Os advérbios gregos polymerôs (“muitas vezes”) e polytropos (“muitas maneiras”), que modificam o verbo falar, mostram a intensidade dessa comunicação. Deus, em nenhum momento da história, deixou o seu povo sem orientação. Ele fala, e fala sempre o que é necessário.

*Nosso Deus é real, é um Ser vivo que se comunica, que fala; Desde o princípio Deus falava com seus servos, em Gênesis no capítulo 12, O SENHOR se revelou a Abrão e falou com ele, o chamou e orientou-o várias vezes, assim também foi com Isaque e Jacó; Agora os descendentes de Abraão eram uma grande nação e Deus falava e os orientavam através do ministério do profeta Moisés e tantos outros que o SENHOR vocacionou.

2. A revelação profética e a Nova Aliança: Aos cristãos da Nova Aliança, Deus falou por intermédio do seu Filho (Hb l.l). O uso das expressões “havendo falado” ou “depois de ter falado” (Hb 1.1,2) por parte do autor mostra que essa ação de Deus foi um fato consumado. Isso tem levado alguns intérpretes a dizer que a partir daquele momento. Deus não falaria mais diretamente com ninguém. Mas isso é ir além daquilo que o autor tencionava dizer. O uso dessa expressão é mais bem entendida como significando que Deus falou de forma completa nos dias do autor, todavia, sem a conotação temporal de que não falaria mais no futuro. O Espírito profético, que é o Espírito de Cristo (1 Pe 1.11; Rm 8.9,10), continua dando à Igreja hoje a percepção do plano e vontade de Deus para o seu povo (Jo 14.26; 15.26; 16.13). E isso sempre em consonância com as Escrituras.

*Moisés foi um profeta respeitadíssimo, tudo quanto recebia de Deus a transmitia ao povo e tudo se cumpria fielmente, era um profeta que falava em nome do SENHOR, e Moisés profetizou que viria um profeta, e a esse o povo deveria ouvir (Dt.18.15-19). Essa profecia se cumpriu em Jesus Cristo, pois Jesus exerceu o ministério profético, pregando o evangelho do reino de Deus, declarando a vontade de Deus ao povo, no monte da transfiguração de um lado estava Moisés representando a Lei, do outro estava Elias representando os Profetas e no meio estava Cristo, e a voz Deus ecoou a Pedro, Tiago e João dizendo: “Este é meu Filho amado, em quem me comprazo; escutai-o”. (Mt.17.1-5).

3. Cristo: a revelação final: O objetivo do autor aqui, evidentemente, é mostrar que Cristo é o clímax da revelação profética. Ele é a revelação final! O ministério profético na Antiga Aliança era de importância ímpar. O Senhor disse que falaria por intermédio de seus profetas: “Certamente o Senhor Jeová não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas” (Am 3.7). O silêncio profético, portanto, era a pior forma de castigo que poderia vir ao antigo Israel. Os profetas eram importantes, mas a relevância deles estava muito longe daquela possuída por Jesus Cristo, o Filho de Deus. Os profetas eram apenas servos, mas o Filho era o herdeiro de Deus e o agente da Criação (Hb 1.2). Ele é o redentor do mundo! Nenhum profeta morreu de forma vicária pelo povo de Deus.

*Cristo é a revelação específica, perfeita, completa e final, a partir disso tudo quanto for revelação deve estar harmonizado com Cristo, sua obra e seus ensinamentos transmitidos por Ele e seus apóstolos, pois a revelação divina antes era “Assim diz o Senhor”, hoje é “Está Escrito”!

SUBSÍDIO LEXICOGRÁFICO
“REVELAÇÃO – [Do gr. apokalupsis; do lat. revelatio, tirar o véu] Manifestação sobrenatural de uma verdade que se achava oculta. Tendo em vista o caráter e a urgência das profecias do último livro da Bíblia, Apocalipse é considerado a revelação por excelência (Ap 1.1-3).
REVELAÇÃO BÍBLICA – Conhecimento divino preservado nas Sagradas Escrituras, e posto à disposição da humanidade. Consta do Antigo e do Novo Testamento. É a nossa única regra de fé e prática.
REVELAÇÃO PROGRESSIVA – Evolução progressiva e dispensacional das verdades divinas que, tendo a sua gênese no Antigo Testamento, culminaram e se completaram no Novo. O texto-áureo da revelação progressiva acha-se em Hebreus 1.1,2” (ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, pp.255,56).

#3.CRISTO - SUPERIOR AOS ANJOS

1. Cristo: superior em natureza e essência: Devemos ter sempre em mente que o autor de Hebreus tenciona mostrar a superioridade de Cristo em relação às demais ordens da criação. O seu foco aqui são os anjos. A cultura judaica via os anjos como seres de uma ordem superior e mediadores da revelação divina (At 7.53; Gl 3.19; Hb 2.2). Mesmo cercados de força e poder, os anjos eram inferiores ao Filho (Hb 1.4). Jesus é o reflexo da glória de Deus e possuidor da mesma essência divina (Hb 1.3). O autor usa dois vocábulos gregos que deixam isso bem definido: apaugasmae character, que significam respectivamente “radiância” e “reflexo”, traduzidos aqui como resplendor e “caráter”, com o sentido de expressão exata do seu ser. Embora sendo pessoas diferentes, tanto o Filho como o Pai possuem a mesma essência. Cristo é o Deus revelado!

*Os anjos eram admirados pelo povo judeu por sua aparência, beleza e poder, por várias vezes Deus os enviou para ministrarem em favor da nação de Israel, diante disso o escritor aos Hebreus, quer exaltar a Cristo pois Ele é o resplendor da glória de Deus e mais do que isso Cristo é imagem de Deus, ou seja, Cristo é o Deus revelado, e como Deus, Cristo tem a primazia, a preeminência e supremacia sobre tudo e todos, pois foi do agrado do Pai que toda a plenitude habitasse Nele. (Cl.1.15-19)

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
“ANJOS. A palavra ‘anjo’ (hb. Malak; gr. angelos) significa ‘mensageiro’. Os anjos são mensageiros ou servidores celestiais de Deus (Hb 1.13.14), criados por Deus antes de existir a terra (Jó 38.4-7; SI 148.2,5; Cl 1.16).
(1) A Bíblia fala em anjos bons e em anjos maus, embora ressalte que todos os anjos foram originalmente criados bons e santos (Gn 1.31). Tendo livre-arbítrio, numerosos anjos participaram da rebelião de Satanás (Ez 28.12-17; 2 Pe 2.4; Jd 6; Ap 12.9; Mt 4.10) e abandonaram o seu estado original de graça corno servos de Deus, e assim perderam o direito à sua posição celestial.
(2) A Bíblia fala numa vasta hostes de anjos bons (1Rs 22.19; SI 68.17; 148.2; Dn 7.9,10; Ap 5.11), embora os nomes de apenas dois sejam registrados nas Escrituras: Miguel (Dn 12.1; Jd 9; Ap 12.7) e Gabriel (Dn 9.21; Lc 1.19,26). Segundo parece, os anjos estão divididos em diferentes categorias: Miguel é chamado de arcanjo (lit.: “anjo principal’, Jd 9; 1Ts 4.16); há serafins (Is 6.2), querubins (Ez 10.1-3), anjos com autoridade e domínio (Ef 3.10; Cl 1.16) e as miríades de espíritos ministradores angelicais (Hb 1.13,14; Ap 5.11)” (Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p.386).

2. Cristo: superior em majestade e deidade: O autor passa então a mostrar a supremacia de Cristo em relação aos anjos por meio de vários fatos documentados nas Escrituras. Os anjos são criaturas, o Filho é Criador. O filho é gerado, não criado. C. S. Lewis observa que o que Deus gera é Deus; assim como o que o homem gera é homem. O que Deus cria não é Deus; da mesma forma que o que o homem faz não é homem. Daí a razão de os homens não serem filhos de Deus no mesmo sentido que Cristo. Eles podem assemelhar-se a Deus em certos aspectos, mas não pertencem à mesma espécie. O mesmo se pode dizer dos anjos. Eles não possuem a mesma essência divina que o Filho. É por essa razão que o autor destaca que o Filho é chamado de “Deus” (v.8) e que por isso merece adoração (v.6). A Ele toda honra e glória!

CONCLUSÃO: O autor de hebreus não quis se identificar, mas isso em nada compromete a autoridade desse documento. Desde os primórdios, a igreja valeu-se dos ensinos dessa carta para fortalecer a fé dos crentes. Clemente de Alexandria fez amplo uso das exortações encontradas nessa carta e, ao assim fazer, reconhecia o profundo valor espiritual de Hebreus. Nesses últimos dias, onde os joelhos de muitos cristãos parecem vacilantes, faz-se necessário atentarmos diligentemente para o conselho encontrado em Hebreus, “se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais o vosso coração” (3.7).

Por: Pb. Tiago Luis Pereira (Professor da Escola Bíblica Dominical da Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Missões)

Cristais – Mg 03/01/17

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